
Homo Automobilis
Comprei um carro e aumentei meu corpo.
O carro passou a ser meu prolongamento:
Eu xingo, grito e agrido por ele.
O carro não é mais carro, o carro também sou eu.
Eu ando com duas pernas e quatro pneus,
Eu me alimento com comida e gasolina,
Eu tenho sangue e óleo,
Coração e motor,
Pulsação e bateria,
Estômago e porta-mala,
Fezes e graxa...
Eu ando com duas pernas e quatro pneus,
Sou um ‘homo automobilis”!
Se baterem nele é como se batessem em mim.
Brigo!
Perco a vida nele e por ele.
Pago imposto de renda por mim e licenciamento por ele.
Incrustamo-nos, somos um só.
Tenho nome e marca,
Tenho olhos e faróis,
Tenho membros e suspensão,
Tenho rins e carburador,
Tenho pulmões e pistões.
Eu ando com duas pernas e quatro pneus,
Sou um “homo automibilis”!
Levanto, saio, e volto com ele.
Esposa?
Filhos?
Eles são complementos!
O carro é fundamental,
Vivo mais nele quem em casa,
É quase que meu corpo fora de mim.
Lavo, enxugo...
Levo ao médico-mecânico,
Levo ao cirurgião-plástico-funileiro...
Ele é minha extensão!
Ando com duas pernas e quatro pneus,
Sou um “homo automobilis”,
Sou invenção da minha raça;
Eu surgi no progresso massificado,
Sou um “homo automobilis”...
Gente e carro,
Corpo, alma e lataria,
Sou um misto de criação divina
E invento demoníaco do século XX.
Sou um “homo automobilis”
E, para voltar a ser o que era,
Eu preciso progredir espiritualmente.
Mas meus conhecimentos estão
No jardim da infância;
Por isso, continuo sendo
Um tolo e confuso “homo automobilis”!
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