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sábado, 24 de julho de 2010

Momento literário: "Homo Automobilis"


Ler é sempre muito bom, pois além de se aprender e informar, você amplia o seu vocabulário.O texto que segue abaixo foi retirado do livro “Deus Negro” do autor Neimar de Barros. O Livro possui a tendência espírita, e com seus 29 textos independentes, nos faz refletir sobre vários temas do cotidiano, como o egoísmo e o preconceito, por exemplo. Homo Automobilis é uma retratação da nossa vida atual. Vivemos em função de bens materiais e esquecemos de dar importância para a nossa vida e família. Neste caso, uma pessoa que vive em função de um carro, que morre por ele. Nos deparamos diariamente com pessoas assim, que tratam seus carros como filhos, ou até melhor que os próprios, e esquecem que os bens passam, a nossa vida passa e deste mundo não levamos nada a não ser o que fomos e representamos para as pessoas que nos amaram. Uma reflexão de até que ponto deixamos o ter acima do ser, e deixamos nos influenciar por uma sociedade medíocre que impõe suas “regras” através da mídia.


Homo Automobilis 


Comprei um carro e aumentei meu corpo.
O carro passou a ser meu prolongamento:
Eu xingo, grito e agrido por ele.

O carro não é mais carro, o carro também sou eu.
Eu ando com duas pernas e quatro pneus,
Eu me alimento com comida e gasolina,
Eu tenho sangue e óleo,
Coração e motor,
Pulsação e bateria,
Estômago e porta-mala,
Fezes e graxa...
Eu ando com duas pernas e quatro pneus,
Sou um ‘homo automobilis”!

Se baterem nele é como se batessem em mim.
Brigo!
Perco a vida nele e por ele.
Pago imposto de renda por mim e licenciamento por ele.
Incrustamo-nos, somos um só.

Tenho nome e marca,
Tenho olhos e faróis,
Tenho membros e suspensão,
Tenho rins e carburador,
Tenho pulmões e pistões.
Eu ando com duas pernas e quatro pneus,
Sou um “homo automibilis”!

Levanto, saio, e volto com ele.
Esposa?
Filhos?
Eles são complementos!
O carro é fundamental,
Vivo mais nele quem em casa,
É quase que meu corpo fora de mim.

Lavo, enxugo...
Levo ao médico-mecânico,
Levo ao cirurgião-plástico-funileiro...
Ele é minha extensão!

Ando com duas pernas e quatro pneus,
Sou um “homo automobilis”,
Sou invenção da minha raça;
Eu surgi no progresso massificado,
Sou um “homo automobilis”...

Gente e carro,
Corpo, alma e lataria,
Sou um misto de criação divina
E invento demoníaco do século XX.

Sou um “homo automobilis”
E, para voltar a ser o que era,
Eu preciso progredir espiritualmente.

Mas meus conhecimentos estão
No jardim da infância;
Por isso, continuo sendo
Um tolo e confuso “homo automobilis”!

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